Ao "folhear" o site do Peter Saville deparei com um projecto feito para a empresa portuguesa KrvKurva.
Fui procurar mais informação sobre eles e encontrei este artigo na Fora de Linha (uma revista da FCSH-UNL), que aqui transcrevo. Mostra bem o percurso empreendedor que se exige, particularmente aos designers portugueses.
Quando Daniela e Jorge começaram a divulgar o seu projecto em Portugal, nunca pensaram encontrar tantos obstáculos. “Muitas vezes acusaram-nos de não ser os verdadeiros autores da mala”, conta Jorge recordando o episódio em que a proprietária de uma loja insistiu que a LA.GA bag era um projecto estrangeiro: “Eu até pendurei na parede uma página da revista View onde está essa mala porque a achei giríssima!”, disse-lhes a comerciante. É que a LA.GA já corria o mundo nas páginas das revistas internacionais.
“Um dos problemas em Portugal é a falta de reconhecimento dos designers e produtos nacionais” denuncia Daniela. “As pessoas consomem mais o efeito social da moda do que os produtos em si”. A designer conta como as grandes multinacionais alimentam ainda mais esta tendência. Os seus produtos imitam as criações originais e estimulam as pessoas a comprar o mesmo estilo por um preço muito mais baixo.
55 kg em 40 gr...
A LA.GA venceu este panorama negativo. Para a dupla de designers, um dos motivos de sucesso está no material- o tyvek- concebido pela DuPont num laboratorio em Nova Iorque. “Procurámos trazer para o uso diário materiais utilizados na medicina, engenharia e aeronautica”. Daniela e Jorge apostam na inovação, contrariando o uso de materiais convencionais como o algodão.
À primeira vista parece papel, o que causa ainda mais impacto. Afinal, trata-se de um material resistente, com uma gramagem muito específica e lavável à máquina. Esta mala é para ser vestida. “Sem dúvida que a LA.GA sem o tyvek não teria a mesma performance: são 40 gr que suportam 55 kg!”
A LA.GA “é o culminar de toda a investigação que vinhamos a fazer desde a faculdade”, revela Jorge. Os projectos em comum começaram na Faculdade de Arquitectura de Lisboa, altura em que os dois designers já participavam em concursos e exposições. Este dinamismo deu origem, há cerca de um ano à KrvKurva, atelier onde os dois jovens continuam a desenvolver os seus projectos. “Esta empresa funciona como um laboratório- é preciso procurar conceitos novos.”
A inovação também passa por uma forte consciência social. Um dos motivos que deu o Prémio Nacional do Design a Daniela e Jorge foi o processso de produção da mala- “Não misturamos muitos materiais, só tyvek, linha e tinta”. O processo de reciclagem fica assim facilitado.
A LA.GA bag marca pela diferença mas Jorge e Daniela fazem questão que esta originalidade não imponha preços elevados: “Não queremos que a mala seja uma obra de arte. Ela é uma peça de design, é suposto ter uma função!”
A LA.GA e a Fabrica Features
A LA.GA herdou este nome em homenagem a Gala Fernandez, a project manager da Fabrica Features da Benetton. “Devemos-lhe muito, daí o nome da mala- é o nome dela, com as sílabas invertidas!”.
A Fabrica Features é um espaço cultural criado pela Benetton que se destina ao apoio e divulgação de jovens talentos no campo da arte. Para Jorge, a Fabrica Features é “uma referência na área do design, um sinal de qualidade”.
A ligação entre os designers e este projecto da Benetton já existia porque Jorge trabalhou como consultor na Fabrica em Itália. No entanto, foi Gala Fernandez quem abraçou desde logo esta ideia da dupla portuguesa.
Hoje a relação de Jorge e Daniela com a Fabrica Features é ainda mais forte. A KrvKurva é a actual responsável por este espaço da Benetton em Lisboa.
“To love is not an option”
A mala, na sua versão original branca, começa a ser comercializada em Itália. As portas em Portugal abrem-se depois da LA.GA ser premiada em vários concursos. A partir daí, a mala tem sido alvo de todas as atenções no mundo do design de moda. “Quase que fomos obrigados a criar uma colecção que desenvolve outros padrões para além da branca” diz Jorge. Nasce assim a colecção “To love is not an option”.
Os padrões tiveram o contributo de vários artistas convidados. Fizeram-se edições limitadas de 300 unidades mas também peças únicas. “Talvez a branca seja a nossa preferida por ser a primeira. Mas todas elas têm uma história”- como é o caso do modelo patrocinado pela Benetton que tem o retrato de um escultor chinês que fazia parte do projecto Fabrica Features. “ A ideia era transmitir um sentimento positivo e ele foi a melhor inspiração!”
O percurso da LA.GA já é longo. Passou por Atenas, Londres, Japão e em Novembro estará presente na Trienal de Design em Milão. Esta exposição organizada pelo comissariado da presidência da República contará com a presença de trabalhos de designers e arquitectos portugueses realizados entre 1990 e 2004.
A KrvKurva vai ser representada pela peça original branca da LA.GA e mais duas “to love is not an option”, pintadas por artistas portugueses. Mais uma vez, a LA.GA viaja pelo mundo da moda, mostrando que o design português tem uma palavra a dizer.
Visite atelier KrvKurva
Texto de: Bernardo Aguiar, Diana Matias e Vera Moura