segunda-feira, 2 de abril de 2007

Se todos podem fazer o que nós fazemos...

...o que é nós designers podemos fazer? Melhor!

É verdade que, para esta premissa funcionar, o designer deve lutar por melhorar a sua prestação, mas o consumidor, por seu lado, também deve ter cada vez mais capacidade de apreciar.

A actividade de design está profundamente ligada à definição de estratégias e à resolução de problemas. No caso da comunicação, lida com situações de concorrência tão fortes no universo visual das pessoas, que ser eficaz é tarefa difícil e não está ao alcance de qualquer um.
Para um designer, não chega saber dominar software (que por ser
facílimo de adquirir e tão amigável para o utilizador, cria facilmente a ilusão de fornecer soluções ao alcance de qualquer um). Conhecer os assuntos mais profundamente, relacionar informação, dominar a língua portuguesa, documentar decisões, saber sustentar a exposição de um projecto, experimentar exaustivamente soluções, ser capaz de liderar uma equipa multidisciplinar, são requisitos imprescindiveis para um profissional de design.

Quanto ao consumidor/utente como pode um decisor distinguir se uma dada imagem reflecte uma instituição, se foi suficientemente longe na história que pode e deve contar ou se está suficientemente desenvolvida em todos os parâmetros?
Como define uma campanha de comunicação, organiza uma exposição, estrutura um livro ou um site, sem conhecer minimamente a metodologia, as ferramentas ou a linguagem do designer?

Parece-me evidente que é necessária uma cultura de consumidor de design esclarecido, cujo efeito se sentirá transversalmente: a começar pelos compradores de serviços de design da Administração Pública, continuando pelos administradores de empresas privadas e acabando no público consumidor final.

MO

"...e de louco, todos temos um pouco"

Por que é que a Administração Pública insiste em promover concursos públicos de design destinados a qualquer um, ou na melhor das hipóteses a estudantes e recém licenciados em design, em vez de contratar serviços profissionais?

Parece que todos, num dado momento, acabamos por ceder à tentação de opinar sobre uma área profissional que não é a nossa. Receitar medicamentos à vizinha, dar ideias para a casa de um irmão, contestar a decisão do juiz num caso polémico, e (porque não?) submeter uma ideia para um selo...

Opinar, ter sentido crítico, sugerir, são qualidades desejáveis, mas todos entendemos que quanto mais se domina uma matéria, mais evidente se torna a complexidade das soluções aos problemas que lhe são levantados.
Por exemplo, quando alguém receita com displicência um anti-inflamatório a uma pessoa com dores no corpo, será que se lembra que esta pode ser alérgica, que pode sofrer de problemas gástricos e necessitaria assim de um protector do estômago, que pode estar a tomar outros medicamentos que com ele interajam, ou que pode estar apenas a mascarar os sintomas de algo mais grave?

Não é por espírito corporativo que critico as instituições públicas por lançarem concursos de design a torto e a direito e abertos à participação de qualquer um.
Parece-me apenas que, agindo assim, dão um sinal contrário ao do governo que anuncia pretender posicionar Portugal pela competitividade e profissionalismo.

MO